FAIL (the browser should render some flash content, not this).

 

Uso da Água - Desperdício em cascata

Da produção à distribuição, país joga fora por dia 2,5 mil piscinas olímpicas de água tratada, perda que se soma a padrões errados de consumo e deixa especialistas alarmados no dia dedicado ao bem natural mais importante do planeta
Ela está presente em mais de 70% do corpo humano e da superfície terrestre. Sua importância é fundamental para a vida, mas, nem mesmo em tempo de escassez ou de seca completa, é respeitada e tratada como merece. Ontem, Dia Mundial da Água, dados alarmantes revelam quanto o desperdício e a falta de consciência ambiental empurram para o ralo o recurso natural mais precioso do planeta. Levantamento do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (Snis) e do Instituto Socioambiental (ISA), de 2006, mostra que, antes mesmo de chegar à torneira dos brasileiros, são perdidos, por dia, 6 bilhões de litros d'água potável no país, o equivalente a 2,5 mil piscinas olímpicas. Esse total seria suficiente para abastecer 38 milhões de pessoas, ou quase o dobro da população de Minas, estado em que quase um terço do total produzido é escoado indevidamente.
Essa perda líquida e certa, que ocorre em todas as grandes concessionárias do país entre a captação de água dos mananciais e a chegada aos imóveis, é apenas a ponta do iceberg. Dados do Snis denunciam que, em média, as companhias brasileiras de saneamento jogam fora 42% do que produzem, sendo que o índice considerado tolerável pela Agência Nacional das Águas (ANA) é de 20%. Por tubulações velhas, vazamentos, submedição dos hidrômetros e fraudes escorre uma verdadeira cachoeira que daria para abastecer 6 milhões de caixas-d'água por dia. O dano ambiental já seria motivo suficiente para preocupação, mas, além dele, há o prejuízo financeiro. E é você, consumidor, que paga por isso.

Em Minas, a perda da Copasa atinge 30% e isso significa que, diariamente, são escoados, sem destino algum, mais de 777 milhões de litros de água. Somente o sistema de distribuição da capital derrama volume superior a 222 milhões de litros/dia. A companhia informa que a população de Belo Horizonte consome a média de 404 milhões de litros a cada 24 horas. Ou seja, com a quantidade perdida no estado, daria para abastecer quase duas vezes a capital mineira.

O gerente da divisão de Macro-Operação de Água da Copasa, Glaycon de Brito Cordeiro, explica que o desperdício ocorre, principalmente, em quatro momentos da distribuição. Um deles é chamado de perda virtual, atribuída às ligações irregulares ou "gatos", feitos na maioria das vezes em aglomerados. "Há também o uso da água a partir dos hidrantes, aproveitados pelo Corpo de Bombeiros para combater incêndios, e os vazamentos na rede de abastecimento, que também são preocupantes. Além disso, os filtros e os decantadores das estações de tratamento são limpos com água potável. O conjunto desses volumes é incluído nas contas de perda. Para minimizar o dano, há um programa na Copasa que busca, especialmente, reduzir esse prejuízo", afirma Cordeiro.
Mesmo com o conhecimento das estatísticas e o esforço para mudá-las, a perda de água é um problema longe de ser resolvido. Segundo o especialista em recursos hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA) Eduardo Cavalcanti, o desperdício é generalizado no país. "As concessionárias deixam muito a desejar. A maioria delas gasta mais que o tolerável", afirma. Levantamento de 2006 do Snis mostra o tamanho do rombo: 10 prestadores apresentaram índices de perda superiores a 50%, exemplo do Piauí, Amazonas, Acre e Alagoas.

 

ESTRAGO
O desperdício, apesar de ocorrer em escala industrial nas concessionárias, não se limita a elas.    Depois de alcançar as torneiras, a ação perdulária dos consumidores, aliada a técnicas inadequadas de irrigação e pecuária, contribui com a escassez. Da produção ao gasto, o mal uso ganha forma do maior inimigo do provimento de água no Brasil. Como se os dados já não fossem suficientemente preocupantes, para muitos, o problema ainda é subestimado.
A arquiteta e coordenadora da campanha de Olho nos Mananciais do ISA, Marússia Whately, observa que o Brasil acumula 12% da água doce no mundo, mas, nem por isso, pode se dar ao luxo de esbanjar o recurso natural. "Acredito que a perda no sistema é mais significativa do que o padrão de consumo. Cada vez mais, as águas disponíveis estão poluídas e, por isso, escassas. Tratá-las fica, dia após dia, mais caro e as projeções para o futuro são desanimadoras. O Brasil, em vez de cuidar bem da água já disponível, busca sempre explorar novos mananciais", analisa a especialista.

Enquanto a consciência não vem, muitos cidadãos dão de ombros para os alertas e o poder público, se não os ignora, é ineficiente no combate ao problema. Em metrópoles como Belo Horizonte, onde o abastecimento é uma questão especialmente delicada, não é difícil flagrar o líquido mais importante do planeta sendo desperdiçado nas calçadas, em torneiras com defeito ou mal fechadas e no próprio excesso de consumo.

Na Praça Duque de Caxias, no Bairro Santa Tereza, Região Leste de BH, e em canteiros centrais espalhados por diversos pontos da Região Centro- Sul de BH, como os da Avenida Bias Fortes, por exemplo, parte do líquido que deveria irrigar os jardins molha o asfalto, o passeio, os carros e eventualmente motoristas e pedestres. Na hora de limpar o quintal, muitas vezes a mangueira faz o serviço da vassoura, com água pura e potável que se transforma em esgoto em segundos de falta de consciência
.
Fonte:Jornal Estado de Minas